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V Consenso Brasileiro sobre Rinite - 2024.

Atualizado: 5 de mai.

Tudo que você precisa saber sobre o V Consenso Brasileiro sobre Rinites (2024)


Em outubro de 2024, foi publicado o tão aguardado V Consenso Brasileiro sobre Rinites, um documento robusto e atualizado, fruto da colaboração entre a ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e a ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial). Este consenso estabelece um novo padrão para o diagnóstico, classificação e manejo da rinite no Brasil.


🧠 Avanços desde o último consenso

Desde 2017, inúmeros avanços foram registrados na compreensão dos fenótipos e endótipos da rinite. O novo documento propõe uma abordagem baseada em evidências, com foco na personalização do tratamento e na qualidade de vida dos pacientes.


✅ FENÓTIPOS DE RINITE DISCUTIDOS:

O documento reconhece que os sintomas nasais são comuns a diferentes tipos de rinite, e propõe uma divisão fenotípica baseada em etiologia clínica e resposta imunológica:

1. Rinite alérgica (RA)

  • Mediadas por IgE sistêmica

  • Pode ser:

    • Intermitente ou Persistente

    • Leve, Moderada ou Grave

    • Sazonal ou Perene (embora essa classificação esteja caindo em desuso)

  • Subtipos:

    • RA local (RAL): com produção local de IgE, sem positividade nos testes sistêmicos

    • RA dual: presença de sensibilização sistêmica e local

    • RA mista: coexistência com rinite não alérgica


2. Rinite não alérgica (RNA)

Com diversos subtipos:

  • Idiopática (vasomotora)

  • Eosinofílica não alérgica (RENA / NARES)

  • Hormonais (ex: gravidez, hipotireoidismo)

  • Induzidas por fármacos (ex: uso crônico de vasoconstritores, AINEs)

  • Induzidas por irritantes (ex: fumaça, perfumes, poluentes)

  • Induzidas por alimentos e álcool (ex: rinite gustativa)

  • Rinite do idoso

  • Rinite ocupacional (alérgica ou não)


3. Rinite infecciosa

  • Aguda viral (ex: rinovírus, influenza)

  • Bacteriana

  • Fúngica (mais rara)


✅ ENDÓTIPOS DE RINITE DISCUTIDOS:

Os endótipos referem-se aos mecanismos imunológicos e inflamatórios subjacentes aos fenótipos clínicos. No consenso, os seguintes endótipos são destacados:


1. Endótipo T2-alto (Th2)
  • Associado à rinite alérgica clássica e à RA local

  • Caracterizado por:

    • Produção de IgE

    • Ativação de mastócitos, eosinófilos e basófilos

    • Expressão de citocinas: IL-4, IL-5, IL-13, IL-31

    • Produção de IgE local mesmo na ausência de sensibilização sistêmica

    • Envolvimento de ILC2 (células linfoides inatas do tipo 2) e alarminas como TSLP, IL-25 e IL-33


2. Endótipo neurogênico
  • Presente nas rinites não alérgicas idiopáticas, gustativas e do idoso

  • Características:

    • Hipersensibilidade de fibras sensoriais

    • Participação do sistema NANC (não adrenérgico, não colinérgico)

    • Liberação de neuropeptídeos (VIP, Substância P, CGRP)

    • Influência do eixo neuroimune


3. Endótipo T2-baixo ou não T2
  • Associado às rinites não alérgicas com predomínio neutrofílico ou mixed

  • Menor papel de eosinófilos

  • Pouca ou nenhuma resposta ao tratamento com corticoides tópicos

  • Comum em rinites medicamentosas, ocupacionais não alérgicas ou rinossinusites crônicas sem pólipos


cascata da reação alérgica

🔍 Diagnóstico baseado em fenótipo e gravidade

O consenso reforça que a rinite deve ser classificada não apenas pela etiologia (alérgica, não alérgica, infecciosa, mista), mas também pelo fenótipo clínico e gravidade dos sintomas. O uso de escalas visuais analógicas e testes diagnósticos como o teste de provocação nasal ganha destaque, especialmente em casos de rinite alérgica local (RAL), onde os exames de IgE sistêmica podem ser negativos.


📚 Destaques do conteúdo
  • Rinite alérgica: definida como uma reação inflamatória mediada por IgE a alérgenos ambientais. Classificada em intermitente ou persistente e leve ou moderada/grave, com base na frequência e impacto dos sintomas.

  • Rinites não alérgicas: englobam mecanismos diversos, como neurogênicos (ex: rinite gustativa), hormonais, medicamentosos (ex: uso crônico de vasoconstritores tópicos), induzidos por tabaco, álcool e alimentos, além de formas atípicas como rinite eosinofílica não alérgica (RENA).

  • Rinite mista: quando coexistem componentes alérgicos e não alérgicos, bastante comuns na prática clínica.

  • Importância do desenvolvimento orofacial: a rinite na infância, especialmente quando leva à respiração bucal crônica, pode alterar o crescimento facial e a oclusão dentária, com impacto direto na estética e função.

  • Comorbidades: asma, rinossinusite crônica, otite média, distúrbios do sono e alterações cognitivas em crianças são frequentemente associadas à rinite mal controlada.


💊 Tratamento: mais do que remédios

O novo consenso enfatiza a individualização do tratamento, de acordo com a gravidade e perfil do paciente. As abordagens incluem:

  • Controle ambiental e higiene domiciliar.

  • Farmacoterapia: corticoides intranasais seguem como primeira linha. Anti-histamínicos, antileucotrienos e descongestionantes devem ser usados com critério.

  • Imunoterapia específica (sublingual ou subcutânea): recomendada em casos moderados a graves, com benefícios comprovados.

  • Imunobiológicos: uma fronteira promissora, ainda em desenvolvimento clínico.


👶👵 Grupos especiais

👶 CRIANÇAS

✔️ Relevância:

  • A rinite alérgica é altamente prevalente na infância.

  • Pode ser subdiagnosticada, pois os sintomas são confundidos com “resfriados frequentes”.


⚠️ Destaques:

  • Rinite mal controlada pode impactar o desenvolvimento orofacial e contribuir para respiração bucal crônica, que altera o padrão craniofacial e causa maloclusões.

  • Está associada a déficit de atenção, distúrbios de sono, problemas escolares e comorbidades como asma e otite média.


💊 Condutas:

  • Corticoides intranasais são seguros e eficazes.

  • Anti-histamínicos de 2ª geração são preferidos por causarem menos sedação.

  • Imunoterapia está indicada em casos persistentes, com boa resposta.


🤰 GESTANTES

✔️ Considerações:

  • Podem desenvolver rinite gestacional, com sintomas que surgem durante a gravidez e desaparecem após o parto, sem relação alérgica clara.

  • Pode haver agravamento de rinites preexistentes.


⚠️ Riscos:

  • Descongestionantes tópicos devem ser evitados, principalmente no 1º trimestre (risco de má perfusão placentária).

  • O uso prolongado pode causar rinite medicamentosa.


💊 Condutas seguras:

  • Lavagem nasal com solução salina é primeira linha.

  • Corticoides intranasais como budesonida são os mais estudados e seguros.

  • Anti-histamínicos de 2ª geração (como loratadina e cetirizina) são seguros em gestantes.


👵 IDOSOS

✔️ Características fisiológicas:

  • Alterações relacionadas à idade incluem:

    • Atrofia da mucosa nasal

    • Redução da vascularização

    • Diminuição do número de glândulas submucosas

    • Comprometimento do transporte mucociliar


⚠️ Implicações clínicas:

  • Sintomas comuns: rinorreia, obstrução nasal e formação de crostas.

  • Maior prevalência de rinites não alérgicas/neurogênicas (ex: rinite gustativa).

  • Alterações olfatórias também são frequentes.


💊 Cuidados:

  • Evitar medicamentos com efeito anticolinérgico (ex: anti-histamínicos de 1ª geração).

  • Corticoides tópicos nasais podem ser usados com segurança.

  • Lavagem nasal e hidratação da mucosa são altamente benéficas.


📣 Educação do paciente e adesão ao tratamento

Outro ponto de destaque é a educação do paciente, essencial para adesão terapêutica e controle dos sintomas. O consenso recomenda estratégias como acompanhamento longitudinal, uso de ferramentas de avaliação de qualidade de vida e envolvimento de uma equipe multidisciplinar.



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📌 Referência oficial:

Solé D, Kuschnir FC, Pastorino AC, et al. V Brazilian Consensus on Rhinitis – 2024. Braz J Otorhinolaryngol. 2025;91():101500. Disponível em: www.bjorl.org



 
 
 

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