V Consenso Brasileiro sobre Rinite - 2024.
- Pâmella Marletti
- 1 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de mai.
Tudo que você precisa saber sobre o V Consenso Brasileiro sobre Rinites (2024)
Em outubro de 2024, foi publicado o tão aguardado V Consenso Brasileiro sobre Rinites, um documento robusto e atualizado, fruto da colaboração entre a ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e a ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial). Este consenso estabelece um novo padrão para o diagnóstico, classificação e manejo da rinite no Brasil.
🧠 Avanços desde o último consenso
Desde 2017, inúmeros avanços foram registrados na compreensão dos fenótipos e endótipos da rinite. O novo documento propõe uma abordagem baseada em evidências, com foco na personalização do tratamento e na qualidade de vida dos pacientes.
✅ FENÓTIPOS DE RINITE DISCUTIDOS:
O documento reconhece que os sintomas nasais são comuns a diferentes tipos de rinite, e propõe uma divisão fenotípica baseada em etiologia clínica e resposta imunológica:
1. Rinite alérgica (RA)
Mediadas por IgE sistêmica
Pode ser:
Intermitente ou Persistente
Leve, Moderada ou Grave
Sazonal ou Perene (embora essa classificação esteja caindo em desuso)
Subtipos:
RA local (RAL): com produção local de IgE, sem positividade nos testes sistêmicos
RA dual: presença de sensibilização sistêmica e local
RA mista: coexistência com rinite não alérgica
2. Rinite não alérgica (RNA)
Com diversos subtipos:
Idiopática (vasomotora)
Eosinofílica não alérgica (RENA / NARES)
Hormonais (ex: gravidez, hipotireoidismo)
Induzidas por fármacos (ex: uso crônico de vasoconstritores, AINEs)
Induzidas por irritantes (ex: fumaça, perfumes, poluentes)
Induzidas por alimentos e álcool (ex: rinite gustativa)
Rinite do idoso
Rinite ocupacional (alérgica ou não)
3. Rinite infecciosa
Aguda viral (ex: rinovírus, influenza)
Bacteriana
Fúngica (mais rara)
✅ ENDÓTIPOS DE RINITE DISCUTIDOS:
Os endótipos referem-se aos mecanismos imunológicos e inflamatórios subjacentes aos fenótipos clínicos. No consenso, os seguintes endótipos são destacados:
1. Endótipo T2-alto (Th2)
Associado à rinite alérgica clássica e à RA local
Caracterizado por:
Produção de IgE
Ativação de mastócitos, eosinófilos e basófilos
Expressão de citocinas: IL-4, IL-5, IL-13, IL-31
Produção de IgE local mesmo na ausência de sensibilização sistêmica
Envolvimento de ILC2 (células linfoides inatas do tipo 2) e alarminas como TSLP, IL-25 e IL-33
2. Endótipo neurogênico
Presente nas rinites não alérgicas idiopáticas, gustativas e do idoso
Características:
Hipersensibilidade de fibras sensoriais
Participação do sistema NANC (não adrenérgico, não colinérgico)
Liberação de neuropeptídeos (VIP, Substância P, CGRP)
Influência do eixo neuroimune
3. Endótipo T2-baixo ou não T2
Associado às rinites não alérgicas com predomínio neutrofílico ou mixed
Menor papel de eosinófilos
Pouca ou nenhuma resposta ao tratamento com corticoides tópicos
Comum em rinites medicamentosas, ocupacionais não alérgicas ou rinossinusites crônicas sem pólipos

🔍 Diagnóstico baseado em fenótipo e gravidade
O consenso reforça que a rinite deve ser classificada não apenas pela etiologia (alérgica, não alérgica, infecciosa, mista), mas também pelo fenótipo clínico e gravidade dos sintomas. O uso de escalas visuais analógicas e testes diagnósticos como o teste de provocação nasal ganha destaque, especialmente em casos de rinite alérgica local (RAL), onde os exames de IgE sistêmica podem ser negativos.
📚 Destaques do conteúdo
Rinite alérgica: definida como uma reação inflamatória mediada por IgE a alérgenos ambientais. Classificada em intermitente ou persistente e leve ou moderada/grave, com base na frequência e impacto dos sintomas.
Rinites não alérgicas: englobam mecanismos diversos, como neurogênicos (ex: rinite gustativa), hormonais, medicamentosos (ex: uso crônico de vasoconstritores tópicos), induzidos por tabaco, álcool e alimentos, além de formas atípicas como rinite eosinofílica não alérgica (RENA).
Rinite mista: quando coexistem componentes alérgicos e não alérgicos, bastante comuns na prática clínica.
Importância do desenvolvimento orofacial: a rinite na infância, especialmente quando leva à respiração bucal crônica, pode alterar o crescimento facial e a oclusão dentária, com impacto direto na estética e função.
Comorbidades: asma, rinossinusite crônica, otite média, distúrbios do sono e alterações cognitivas em crianças são frequentemente associadas à rinite mal controlada.
💊 Tratamento: mais do que remédios
O novo consenso enfatiza a individualização do tratamento, de acordo com a gravidade e perfil do paciente. As abordagens incluem:
Controle ambiental e higiene domiciliar.
Farmacoterapia: corticoides intranasais seguem como primeira linha. Anti-histamínicos, antileucotrienos e descongestionantes devem ser usados com critério.
Imunoterapia específica (sublingual ou subcutânea): recomendada em casos moderados a graves, com benefícios comprovados.
Imunobiológicos: uma fronteira promissora, ainda em desenvolvimento clínico.
👶👵 Grupos especiais
👶 CRIANÇAS
✔️ Relevância:
A rinite alérgica é altamente prevalente na infância.
Pode ser subdiagnosticada, pois os sintomas são confundidos com “resfriados frequentes”.
⚠️ Destaques:
Rinite mal controlada pode impactar o desenvolvimento orofacial e contribuir para respiração bucal crônica, que altera o padrão craniofacial e causa maloclusões.
Está associada a déficit de atenção, distúrbios de sono, problemas escolares e comorbidades como asma e otite média.
💊 Condutas:
Corticoides intranasais são seguros e eficazes.
Anti-histamínicos de 2ª geração são preferidos por causarem menos sedação.
Imunoterapia está indicada em casos persistentes, com boa resposta.
🤰 GESTANTES
✔️ Considerações:
Podem desenvolver rinite gestacional, com sintomas que surgem durante a gravidez e desaparecem após o parto, sem relação alérgica clara.
Pode haver agravamento de rinites preexistentes.
⚠️ Riscos:
Descongestionantes tópicos devem ser evitados, principalmente no 1º trimestre (risco de má perfusão placentária).
O uso prolongado pode causar rinite medicamentosa.
💊 Condutas seguras:
Lavagem nasal com solução salina é primeira linha.
Corticoides intranasais como budesonida são os mais estudados e seguros.
Anti-histamínicos de 2ª geração (como loratadina e cetirizina) são seguros em gestantes.
👵 IDOSOS
✔️ Características fisiológicas:
Alterações relacionadas à idade incluem:
Atrofia da mucosa nasal
Redução da vascularização
Diminuição do número de glândulas submucosas
Comprometimento do transporte mucociliar
⚠️ Implicações clínicas:
Sintomas comuns: rinorreia, obstrução nasal e formação de crostas.
Maior prevalência de rinites não alérgicas/neurogênicas (ex: rinite gustativa).
Alterações olfatórias também são frequentes.
💊 Cuidados:
Evitar medicamentos com efeito anticolinérgico (ex: anti-histamínicos de 1ª geração).
Corticoides tópicos nasais podem ser usados com segurança.
Lavagem nasal e hidratação da mucosa são altamente benéficas.
📣 Educação do paciente e adesão ao tratamento
Outro ponto de destaque é a educação do paciente, essencial para adesão terapêutica e controle dos sintomas. O consenso recomenda estratégias como acompanhamento longitudinal, uso de ferramentas de avaliação de qualidade de vida e envolvimento de uma equipe multidisciplinar.
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📌 Referência oficial:
Solé D, Kuschnir FC, Pastorino AC, et al. V Brazilian Consensus on Rhinitis – 2024. Braz J Otorhinolaryngol. 2025;91():101500. Disponível em: www.bjorl.org
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