🌐“Fenótipos da Doença do Refluxo Gastroesofágico: entenda os subtipos e suas condutas”
- Pâmella Marletti
- 15 de jun.
- 3 min de leitura
Baseado no artigo: O Espectro dos Fenótipos do Refluxo: uma nova forma de compreender a DRGE - Mahoney LB, Rosen R. Gastro-Hep Communications, 2019.
Introdução
Durante muito tempo, a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) foi tratada como uma condição única, cuja base diagnóstica se resumia à presença de sintomas típicos como pirose e regurgitação, e ao achado de esofagite erosiva na endoscopia. No entanto, com o avanço dos métodos diagnósticos funcionais e a compreensão da fisiopatologia envolvida, hoje se reconhece que a DRGE é, na verdade, um espectro de fenótipos distintos, cada um com mecanismos diferentes, exames específicos e, sobretudo, abordagens terapêuticas personalizadas.
O artigo “The Spectrum of Reflux Phenotypes”, publicado em 2019, é uma excelente síntese dessa nova visão, aplicável tanto à gastroenterologia quanto às especialidades que lidam com sintomas atípicos — como otorrinolaringologistas, pneumologistas e clínicos.
Os três fenótipos da DRGE
1. DRGE não erosiva verdadeira (NERD - Non-Erosive Reflux Disease)
Esse é o paciente que não apresenta lesões visíveis na endoscopia, mas possui exposição anormal ao ácido no esôfago, detectada por pHmetria com impedância. Ou seja, o refluxo está presente e é objetivamente mensurável, mas não provocou esofagite erosiva.
Esses pacientes geralmente têm sintomas clássicos (pirose, regurgitação), respondem bem ao uso de inibidores da bomba de prótons (IBP) e são candidatos à abordagem medicamentosa ou mesmo cirúrgica, se refratários.
2. Hipersensibilidade ao refluxo (Reflux Hypersensitivity)
Neste caso, o paciente apresenta exames normais quanto à acidez esofágica total, mas existe uma correlação temporal entre episódios de refluxo fisiológico e o surgimento dos sintomas. Essa sensibilidade exagerada ao refluxo ocorre mesmo em volumes normais e pode ser desencadeada tanto por refluxo ácido quanto não ácido.
A fisiopatologia envolve hipersensibilidade visceral esofágica, com participação de vias neurossensoriais amplificadas. O tratamento inclui, além de medidas comportamentais e dietéticas, neuromoduladores (como antidepressivos tricíclicos em baixa dose e gabapentinoides), visando reduzir a sensibilidade neural esofágica.
3. Pirose funcional (Functional Heartburn)
Nesse fenótipo, os exames mostram exposição ácida normal e nenhuma associação entre os episódios de refluxo e o aparecimento dos sintomas. Esse paciente apresenta sintomas reais, mas com base funcional e não relacionada diretamente ao conteúdo gástrico.
É classificado dentro dos distúrbios funcionais gastrointestinais, semelhantes à dispepsia funcional e à síndrome do intestino irritável. A fisiopatologia envolve hipersensibilidade central, hipervigilância corporal e, frequentemente, comorbidades como ansiedade e somatização.
O tratamento é centrado em abordagens multidisciplinares, com ênfase em terapia cognitivo-comportamental (TCC), mindfulness, neuromodulação e reeducação da resposta ao sintoma. IBPs não têm papel nesse fenótipo.
Como diagnosticar os Fenótipos da Doença do Refluxo Gastroesofágico corretamente?
A definição do fenótipo exige uma combinação de:
Endoscopia digestiva alta (EDA) – para avaliar esofagite, hérnia hiatal e outras lesões estruturais.
pHmetria com impedância esofágica de 24h – exame padrão-ouro para medir tanto refluxo ácido quanto não ácido e sua associação com os sintomas.
Manometria esofágica – para avaliar a motilidade e excluir acalasia e outras disfunções motoras.
Avaliação clínica detalhada – incluindo diários de sintomas e resposta prévia ao IBP.
Por que reconhecer os fenótipos importa?
Porque cada subtipo de DRGE exige uma abordagem diferente. O uso indiscriminado de IBP para todos os casos é um erro comum e, além de ser ineficaz em muitos pacientes, pode retardar o acesso ao tratamento adequado. Além disso, muitos pacientes encaminhados ao otorrino por sintomas como pigarro, tosse ou globus faríngeo pertencem a um desses fenótipos não erosivos — e muitas vezes têm exames normais.
A proposta do artigo é clara: tratar o paciente conforme seu fenótipo clínico e funcional, e não apenas com base em sintomas ou exames isolados.
Conclusão
O artigo The Spectrum of Reflux Phenotypes reforça a necessidade de uma abordagem mais refinada e interdisciplinar para o diagnóstico e tratamento da DRGE. Conhecer e aplicar os Fenótipos da Doença do Refluxo Gastroesofágico — NERD verdadeira, hipersensibilidade ao refluxo e pirose funcional — é o primeiro passo para evitar tratamentos empíricos e alcançar melhores resultados clínicos.

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link para o artigo: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6935024/?utm_source=chatgpt.com
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