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🌐“Fenótipos da Doença do Refluxo Gastroesofágico: entenda os subtipos e suas condutas”

Baseado no artigo: O Espectro dos Fenótipos do Refluxo: uma nova forma de compreender a DRGE - Mahoney LB, Rosen R. Gastro-Hep Communications, 2019.


Introdução


Durante muito tempo, a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) foi tratada como uma condição única, cuja base diagnóstica se resumia à presença de sintomas típicos como pirose e regurgitação, e ao achado de esofagite erosiva na endoscopia. No entanto, com o avanço dos métodos diagnósticos funcionais e a compreensão da fisiopatologia envolvida, hoje se reconhece que a DRGE é, na verdade, um espectro de fenótipos distintos, cada um com mecanismos diferentes, exames específicos e, sobretudo, abordagens terapêuticas personalizadas.


O artigo “The Spectrum of Reflux Phenotypes”, publicado em 2019, é uma excelente síntese dessa nova visão, aplicável tanto à gastroenterologia quanto às especialidades que lidam com sintomas atípicos — como otorrinolaringologistas, pneumologistas e clínicos.


Os três fenótipos da DRGE


1. DRGE não erosiva verdadeira (NERD - Non-Erosive Reflux Disease)

Esse é o paciente que não apresenta lesões visíveis na endoscopia, mas possui exposição anormal ao ácido no esôfago, detectada por pHmetria com impedância. Ou seja, o refluxo está presente e é objetivamente mensurável, mas não provocou esofagite erosiva.

Esses pacientes geralmente têm sintomas clássicos (pirose, regurgitação), respondem bem ao uso de inibidores da bomba de prótons (IBP) e são candidatos à abordagem medicamentosa ou mesmo cirúrgica, se refratários.


2. Hipersensibilidade ao refluxo (Reflux Hypersensitivity)

Neste caso, o paciente apresenta exames normais quanto à acidez esofágica total, mas existe uma correlação temporal entre episódios de refluxo fisiológico e o surgimento dos sintomas. Essa sensibilidade exagerada ao refluxo ocorre mesmo em volumes normais e pode ser desencadeada tanto por refluxo ácido quanto não ácido.

A fisiopatologia envolve hipersensibilidade visceral esofágica, com participação de vias neurossensoriais amplificadas. O tratamento inclui, além de medidas comportamentais e dietéticas, neuromoduladores (como antidepressivos tricíclicos em baixa dose e gabapentinoides), visando reduzir a sensibilidade neural esofágica.


3. Pirose funcional (Functional Heartburn)

Nesse fenótipo, os exames mostram exposição ácida normal e nenhuma associação entre os episódios de refluxo e o aparecimento dos sintomas. Esse paciente apresenta sintomas reais, mas com base funcional e não relacionada diretamente ao conteúdo gástrico.

É classificado dentro dos distúrbios funcionais gastrointestinais, semelhantes à dispepsia funcional e à síndrome do intestino irritável. A fisiopatologia envolve hipersensibilidade central, hipervigilância corporal e, frequentemente, comorbidades como ansiedade e somatização.

O tratamento é centrado em abordagens multidisciplinares, com ênfase em terapia cognitivo-comportamental (TCC), mindfulness, neuromodulação e reeducação da resposta ao sintoma. IBPs não têm papel nesse fenótipo.


Como diagnosticar os Fenótipos da Doença do Refluxo Gastroesofágico corretamente?

A definição do fenótipo exige uma combinação de:

  • Endoscopia digestiva alta (EDA) – para avaliar esofagite, hérnia hiatal e outras lesões estruturais.

  • pHmetria com impedância esofágica de 24h – exame padrão-ouro para medir tanto refluxo ácido quanto não ácido e sua associação com os sintomas.

  • Manometria esofágica – para avaliar a motilidade e excluir acalasia e outras disfunções motoras.

  • Avaliação clínica detalhada – incluindo diários de sintomas e resposta prévia ao IBP.


Por que reconhecer os fenótipos importa?

Porque cada subtipo de DRGE exige uma abordagem diferente. O uso indiscriminado de IBP para todos os casos é um erro comum e, além de ser ineficaz em muitos pacientes, pode retardar o acesso ao tratamento adequado. Além disso, muitos pacientes encaminhados ao otorrino por sintomas como pigarro, tosse ou globus faríngeo pertencem a um desses fenótipos não erosivos — e muitas vezes têm exames normais.

A proposta do artigo é clara: tratar o paciente conforme seu fenótipo clínico e funcional, e não apenas com base em sintomas ou exames isolados.


Conclusão

O artigo The Spectrum of Reflux Phenotypes reforça a necessidade de uma abordagem mais refinada e interdisciplinar para o diagnóstico e tratamento da DRGE. Conhecer e aplicar os Fenótipos da Doença do Refluxo Gastroesofágico — NERD verdadeira, hipersensibilidade ao refluxo e pirose funcional — é o primeiro passo para evitar tratamentos empíricos e alcançar melhores resultados clínicos.


fluxograma sobre os fenótipos da DRGE, incluindo refluxo funcional, hipersensível e NERD

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