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Guia de Prática Clínica para Perda Auditiva Relacionada à Idade (ARHL) – 2024



A perda auditiva relacionada à idade (ARHL) é a deficiência sensorial mais comum entre indivíduos com 50 anos ou mais, mas continua sendo amplamente subdiagnosticada e subtratada. Estima-se que 1 em cada 3 adultos entre 65 e 74 anos tenha algum grau de perda auditiva, com aumento significativo após os 75 anos.


Além da limitação comunicativa, a ARHL não tratada está associada a maiores riscos de demência, depressão, doenças cardiovasculares, quedas, isolamento social e pior qualidade de vida.



Objetivo do Guideline



O novo guideline da American Academy of Otolaryngology–Head and Neck Surgery Foundation (AAO-HNSF) visa:


  • Melhorar a identificação precoce da ARHL.

  • Guiar condutas baseadas em evidências para o manejo da condição.

  • Reduzir barreiras sociodemográficas ao acesso à saúde auditiva .




Principais Recomendações (Key Action Statements - KAS)



  1. Triagem obrigatória de perda auditiva para pacientes ≥50 anos em qualquer consulta de saúde.

  2. Se a triagem for positiva, examinar o canal auditivo com otoscopia para excluir cerume, infecção ou outras anormalidades .

  3. Identificar fatores sociodemográficos e preferências do paciente que possam impactar o acesso ao cuidado auditivo .

  4. Se indicado, solicitar ou encaminhar para audiometria.

  5. Avaliar ou encaminhar casos de perda auditiva assimétrica, condutiva, mista ou com discriminação de fala anormal.

  6. Educar e aconselhar pacientes e cuidadores sobre o impacto da perda auditiva em comunicação, cognição, segurança e qualidade de vida.

  7. Orientar sobre estratégias de comunicação e o uso de dispositivos assistivos auditivos (ex.: amplificadores, apps, legendas para telefone).

  8. Oferecer amplificação auditiva (aparelhos auditivos bem adaptados).

  9. Encaminhar para avaliação de implante coclear quando houver dificuldade auditiva significativa mesmo com amplificação adequada.

  10. Reavaliar se os objetivos comunicativos foram alcançados e se houve melhora na qualidade de vida em até 1 ano.

  11. Retestar audição pelo menos a cada 3 anos em indivíduos com perda auditiva conhecida.




Destaques Clínicos



  • Amplificação precoce (incluindo aparelhos auditivos) pode reduzir risco de declínio cognitivo .

  • Implantes cocleares são subutilizados: apenas 5-13% dos candidatos potenciais recebem o dispositivo .

  • Triagem simples com perguntas diretas (“Você tem dificuldade para ouvir?”) pode triplicar a detecção de casos .




Impactos Econômicos e de Saúde Pública



  • A perda auditiva gera custos médicos e sociais significativos, ultrapassando 12 bilhões de dólares anuais nos EUA .

  • Adultos com ARHL têm risco dobrado de desemprego e apresentam 50% mais chances de desenvolver depressão .




Considerações Importantes para o Médico



  • A ARHL é progressiva, insidiosa e frequentemente subestimada pelo próprio paciente.

  • O rastreio ativo é necessário, mesmo na ausência de queixa espontânea.

  • Inclusão de cuidadores na educação favorece adesão ao tratamento e estratégias de comunicação.

  • Tecnologia assistiva simples (aplicativos de transcrição de fala, telefones amplificados) pode transformar o dia a dia dos pacientes.



A triagem recomendada a partir dos 50 anos pode ser realizada de forma simples, eficaz e de baixo custo, mesmo fora de ambientes especializados. O guideline sugere as seguintes formas práticas de triagem auditiva para adultos a partir dos 50 anos:


Triagem com pergunta única (self-report)



“Você tem dificuldade para ouvir?”

Essa pergunta isolada, feita durante qualquer consulta, já tem boa sensibilidade e especificidade para triagem inicial. É a forma mais simples e recomendada em ambientes de atenção primária ou com poucos recursos .





2. Questionários validados



  • HHIE-S (Hearing Handicap Inventory for the Elderly - Screening):


    Versão curta (10 itens) que avalia impacto social e emocional da perda auditiva.


    Pontuação ≥10 indica necessidade de avaliação mais aprofundada.

  • SAC (Self-Assessment of Communication) e RHHI-S também são citados como alternativas válidas .






3. Triagem objetiva com equipamentos portáteis



  • Audiômetro manual de triagem portátil (audioscópio):


    Usado por profissionais treinados para emitir tons em diferentes frequências e intensidades.

  • Apps e testes digitais:


    Aplicativos validados em smartphones ou tablets (ex.: Digits-in-Noise test).


    Apesar da variabilidade entre os apps, alguns mostram boa correlação com a audiometria convencional.






4. Recursos físicos básicos (menos recomendados isoladamente)



  • Teste do sussurro, fingers rub e relógio:


    Úteis quando não há acesso a outros métodos, mas têm menor acurácia e são dependentes do examinador.






Frequência de triagem:



  • A American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) recomenda triagem auditiva a cada 3 anos para todos ≥50 anos, mesmo assintomáticos


 
 
 

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